Frederick Douglass

Frederick Douglass (nascido Frederick Augustus Washington Bayley (c.1818 - 20 de fevereiro de 1895) foi um abolicionista americano, sufragista, editor, orador, autor, estadista e reformista. Denominado "O Sábio de Anacostia" e "O Leão de Anacostia", Douglass é uma das mais proeminentes figuras da história dos afro-americanos e dos Estados Unidos.
Ele acreditava firmemente na igualdade de todas as pessoas, fossem elas negras, mulheres, indígenas americanos ou imigrantes recentes. Gostava de dizer: "Eu me uniria a todas as pessoas que agissem corretamente e a ninguém que agisse erradamente."
Frederick Augustus Washington Bailey, mais tarde conhecido como Frederick Douglass, nasceu escravo no Condado de Talbot, Maryland, entre Hillsboro e Cordova, em um barraco a leste de Tappers Corner e a oeste de Tuckahoe Cree.1 Foi separado de sua mãe, Harriet Bailey, ainda criança. Ela morreu quando Douglas tinha cerca de sete anos e ele foi morar com sua avó materna, Betty Bailey. É provável que os antepassados de sua mãe tivessem sangue indígena.
A identidade de seu pai é obscura. Aparentemente mestiço, Douglass afirmou, inicialmente, que lhe disseram que seu pai era um branco, provavelmente seu senhor, Aaron Anthony. Mais tarde declarou que nada sabia a respeito da identidade de seu pai. Aos sete anos foi separado de sua avó e levado para a fazenda Wye House, onde Anthony trabalhava como capataz.2 Quando Anthony morreu, Douglass foi dado a Lucretia Auld, esposa de Thomas Auld. Ela enviou Douglass para servir o irmão de Thomas, Hugh Auld, em Baltimore.
Quando Douglass tinha cerca de doze anos, a esposa de Hugh Auld, Sophia, começou a alfabetizá-lo. Ela estava desobecendo a lei que proibia ensinar os escravos a ler. Ao descobrir o fato, Hugh Auld o desaprovou enfaticamente, afirmando que se um escravo aprendesse a ler, ele se tornaria insatisfeito com sua condição e desejaria a liberdade. Mais tarde Douglass referiu-se a essa declaração como a primeira fala anti-abolicionista que ele jamais ouvira. Conforme está detalhado em sua autobiografia, Narrativa da vida de Frederick Douglass, um escravo americano (1845), Douglass aprendeu a ler com crianças brancas da vizinhança e observando as letras dos homens para quem trabalhava.
À medida que Douglass aprendia e começava a ler jornais, textos políticos e todo tipo de livros, ele entrou em contato com uma nova realidade que o levou a questionar e, em seguida, a condenar a instituição da escravidão. Posteriormente Douglass deu créditos à publicação The Columbian Orator, que descobriu quando tinha cerca de doze anos, pelo fato de melhor esclarecer e definir sua visão sobre a liberdade e os direitos humanos.
Quando Douglass foi alugado a um certo sr. Freeman, ele ensinou os outros escravos da fazenda a ler o Novo Testamento, numa escola que funcionava semanalmente. Quando a notícia se espalhou, o interesse pelo aprendizado, por parte dos escravos, foi tão grande que, em uma semana, mais de quarenta compareceram às aulas. Durante cerca de seis meses o fato passou relativamente desapercebido. Embora Freeman se mostrasse complacente quanto àquela atividade, outros proprietários de fazendas ficaram ultrajados diante do fato de que seus escravos estavam sendo alfabetizados. Certo domingo eles irromperam na reunião, armados com porretes e pedras, para dispersar permanentemente aqueles encontros.
Em 1833, Thomas Auld levou Douglass de volta, após uma discussão com seu irmão Hugh ("Foi a maneira de punir Hugh", escreveu Douglass). Descontente com Douglass, Thomas Auld mandou-o trabalhar para Edward Covey, um fazendeiro pobre que tinha a reputação de "domador de escravos". Douglass era chicoteado regularmente. O garoto, de dezesseis anos, ficou muito abalado psicologicamente pelos sofrimentos por que passou, mas finalmente se rebelou e reagiu. Após ser confrontado por Douglass, Covey jamais tentou bater nele novamente.
Em 1837, Douglass conheceu Anna Murray, uma mulher negra livre, em Galtimore. Casaram-se logo após ele obter sua liberdade.
Da escravidão à liberdade
Douglass, inicialmente, tentou fugir do sr. Freemann, que o havia alugado de seu senhor, mas sem sucesso. Em 1836 ele tentou fugir de seu novo senhor, Covey, mas voltou a fracassar.
Finalmente no dia 3 de setembro de 1838 Douglass foi bem sucedido, tomando um trem em direção a Havre de Grace, Maryland. Vestia um uniforme de marinheiro e levava documentos de identidade providenciados por um marinheiro negro livre. Atravessou o rio Susquehanna num ferryboat, em Havre de Grace e em seguida prosseguiu por trem até Wilmington, Delaware. De lá tomou um barco a vapor até a "Cidade dos Quakers", Filadélfia, Pennsylvania, chegando finalmente a Nova York. Toda essa viagem durou menos de 24 horas.
Atividades abolicionistas
A casa e local reuniões dos Johnsons, onde Douglass morou, em New Bedford.
Douglass prosseguiu viagem, indo até Massachusetts. Lá participou de várias organizações, em New Bedford, incluindo uma igreja negra, e comparecia regularmente a reuniões abolicionistas. Assinou o jornal semanal The Liberator, de William Lloyd Garrison e, em 1841, ouviu Garrison falar durante uma reunião da Sociedade Anti-Escravidão de Bristol. Por ocasião de um desses eventos, Douglass foi convidado inesperadamente a falar.
Após narrar sua história, ele foi encorajado a se tornar um conferencista anti-escravagista. Douglass inspirou-se em Garrison e mais tarde declarou que "nenhum semblante, nenhuma forma, jamais me impressionou ao externar tamanhos sentimentos (o ódio à escravidão) como os que William Lloyd Garrison expressava". Garrison, da mesma forma, impressionou-se com Douglass e escreveu a seu respeito no The Liberator. Daí a alguns dias Douglass pronunciou seu primeiro discurso na convenção anual da Sociedade Anti-Escravagista de Massachusetts, em Nantucket. Tinha então 23 anos e declarou mais tarde que suas pernas tremiam, mas ele dominou o nervosismo e fez um eloquente discurso sobre a dura vida que levara como escravo.
Em 1843, Douglass participou do projeto intitulado Cem Convenções, da Sociedade Anti-Escravagista Americana. Tratava-se de comícios realizados em todo o leste e meio-oeste dos Estados Unidos e a iniciativa durou seis meses. Ele esteve presente na Convenção de Seneca Falls, onde nasceu o movimento feminista americano e assinou sua Declaração de Sentimentos.
Autobiografia
A obra mais conhecida de Douglass é sua primeira autobiografia, Narrative of the Life of Frederick Douglass, an American Slave, publicada em 1845. Naquele momento alguns céticos atacaram o livro e questionaram o fato de que um negro pudesse ter escrito algo de tamanha eloquência literária. O livro, em geral, recebeu resenhas positivas e tornou-se imediatamente um sucesso de venda. Decorridos três anos de sua publicação, a autobiografia foi reimpressa nove vezes, com 11.000 exemplares circulando nos Estados Unidos. Foi também traduzida para o francês, o holandês e publicada na Europa.
O sucesso do livro teve um infeliz efeito colateral. Os amigos e mentores de Douglass temeram que sua divulgação chamasse a atenção para seu ex-senhor, Hugh Auld, que poderia tentar recuperar sua "propriedade". Encorajaram Douglass a ir para a Irlanda, conforme outros ex-escravos já haviam feito. Ele partiu para Liverpool em 16 de agosto de 1845 e chegou à Irlanda quando começava aquilo que ficou sendo conhecido como A Grande Fome.
Douglass publicou três versões de sua autobiografia ao longo da vida e revisou a terceira edição. Cada edição trazia acréscimos. A narrativa de 1845, a que mais vendeu, foi seguida de My Bondage and My Freedom (Meu Cativeiro e Minha Liberdade), em 1855. Em 1881, após a Guerra Civil, ele publicou Life and Times of Frederick Douglass, que revisou mais tarde, em 1892.
Viagens à Irlanda e Grã-Bretanha
A partir de agosto de 1845, Douglass passou dois anos na Grã-Bretanha e na Irlanda, onde pronunciou muitas conferências, a maioria em igrejas ou capelas protestantes. Chamou tamanha atenção que alguns espaços ficavam "tão apinhados que as pessoas sufocavam". Um exemplo foi sua Conferência de Recepção, em Londres, imensamente popular, que Douglass realizou na Capela de Finsbury, em maio de 1846. Douglass observou que, na Inglaterra, ele "não era tratado como uma cor, mas como um homem". Ficou conhecendo e tornou-se amigo do irlandês nacionalista Daniel O´Connell.
Foi durante aquela viagem que Douglass tornou-se oficialmente livre, quando sua liberdade foi comprada a seu senhor por partidários britânicos.3 Seus simpatizantes, liderados por Ellen Richardson, de Newcastle upon Tyne, coletaram o dinheiro necessário para adquirir a liberdade dele. Douglas entusiasmou platéias com seus discursos sobre a escravidão e sobre suas experiências, sendo muito aclamado. Em 1846 ficou conhecendo Thomas Clarkson, um dos últimos sobreviventes dos abolicionistas que haviam convencido o Parlamento a abolir a escravidão na Grã-Bretanha e em suas colônias.4
Após retornar aos Estados Unidos, Douglass lançou alguns jornais abolicionistas de duração regular: The North Star, Frederick Douglass Weekly, Frederick Douglass´Paper, Douglass´Monthly e New National Era. O lema do The North Star era: "O direito não tem sexo - A verdade não tem cor - Deus é o Pai de todos nós, todos somos irmãos."
Douglass acreditava que a educação era fundamental para que os afro-americanos melhorassem suas vidas. Por esse motivo advogou, desde muito cedo, a eliminação da segregação nas escolas. Na década de 1850 ele se manifestou sem rodeios a esse respeito, em Nova York. Embora a proporção de alunos afro-americanos em relação a alunos brancos fosse de 1 para 40, os afro-americanos recebiam bolsas numa proporção de apenas 1 para 1.600 alunos brancos. Isso significava que os recursos e a instrução, para as crianças afro-americanas, eram imensamente inferiores. Douglass criticou a situação e recorreu aos tribunais, solicitando que as escolas fossem acessíveis a todas as crianças. Colocou que a inclusão no sistema educacional era uma necessidade mais urgente, para os afro-americanos, do que questões políticas como o sufrágio.
As atividades de Douglass abrangeram os anos que precederam a Guerra Civil e durante a conflagração. Ele se relacionava com o abolicionista radical John Brown, mas desaprovava seus planos de iniciar uma rebelião de escravos armados, no sul. Brown visitou a casa de Douglass dois meses antes de conduzir o ataque a um arsenal em Harpers Ferry. Após o ataque, Douglass passou algum tempo no Canadá, temendo ser julgado culpado e preso como co-conspirador. Acreditava que o ataque a uma propriedade federal encolerizaria o público americano. Mais tarde ele compartilhou a cena, por ocasião de uma conferência em Harpers Ferry, com Andrew Hunter, o promotor que havia sido bem sucedido em ajudar a condenar Brown à morte.
Douglass conferenciou como presidente Abraham Lincoln, em 1863, sobre o tratamento dispensado aos soldados negros, e com o presidente Andrew Johnson a respeito do sufrágio negro. Seus mais antigos colaboradores foram os abolicionistas brancos William Lloyd Garrison e Wendell Phillips. No início dos anos cinquenta, entretanto, Douglass rompeu com aqueles que apoiavam Garrison na questão da interpretação da Constituição dos Estados Unidos. Ele acreditava que a Constituição propiciava tudo o que era necessário para assegurar a liberdade dos afro-americanos e garantir seus direitos.
Os anos da Guerra Civil
Antes da Guerra Civil
Em 1851, Douglass fundiu o jornal The North Star com o Liberty Party Paper, de Gerrit Smith, para formar o Frederick Douglass´Paper, publicado até 1860. Acabou concordando com Smith e Lysander Spooner de que a Constituição dos Estados Unidos era um documento anti-escravagista. Foi uma reversão à sua crença anterior de que a Constituição era favorável à escravidão.
Durante certo tempo ele compartilhou as opiniões de William Lloyd Garrison, que se preocupava com o fato de que o apoio à escravidão fazia parte do corpo da Constituição. Garrison expressou publicamente sua opinião, queimando cópias do documento. Um fato que contribuiu para a crescente separação foi que Garrison temia a possibilidade de The North Star competisse com sua própria publicação, National Anti-Slavery Standard e com Anti-Slavery Bugle, de Marius Robinson.
A mudança do posicionamento de Douglass em relação à Constituição foi um dos mais notáveis incidentes ocorridos na divisão do movimento abolicionista, após a publicação do livro de Spooner, The Unconstitutionaly of Slavery, em 1846. Tal mudança e outras diferenças políticas provocaram uma ruptura de Douglass com Garrison. Douglass deixou Garrison ainda mais irado ao declarar que a Constituição podia e devia ser usada como um instrumento na luta contra a escravidão. Com isso Douglass começou a firmar sua independência em relação a Garrison e a aqueles que o apoiavam.
Em 1848 Douglas participou da primeira convenção sobre os direitos das mulheres, a Convenção de Seneca Falls, na qualidade de único afro-americano presente.5 Elizabeth Cady Stanton pediu à assembléia que encampasse uma resolução solicitando o sufrágio feminino.6 Muitos dos presentes se opuseram, incluindo os influentes quakers James e Lucretia Mott. Douglass levantou-se e falou eloquentemente a favor. Disse não poder aceitar o direito de votar, enquanto negro, se uma mulher também não pudesse gozar de tal direito. Afirmou que o mundo seria um lugar melhor se as mulheres fossem incluídas na esfera política. "Ao negar o direito de participar do governo, ocorre não apenas a degradação da mulher e a perpetuação de uma grande injustiça, mas também a mutilação e o repúdio de metade do poder moral e intelectual do governo do mundo."7 As vigorosas palavras de Douglass soaram verdadeiras para muitos dos participantes da convenção e a resolução foi aprovada por grande maioria.8 Lucrecia Mott manifestou-se e após sua fala encerrou-se a convenção.8
Em março de 1860 Annie, a filha caçula de Douglass, morreu em Rochester, Nova York, quando ele ainda estava na Inglaterra. Ele regressou aos Estados Unidos no mês seguinte e seguiu caminho pelo Canadá, a fim de não ser detido.
Por ocasião da Guerra Civil, Douglass era um dos negros mais famosos do país, conhecido por seus pronunciamentos sobre a condição da raça negra e sobre outras questões, tais como os direitos das mulheres. Sua eloquência atraía multidões, aonde quer que ele fosse. O fato de ter sido recebido por líderes na Inglaterra e na Irlanda aumentou seu prestígio.
Luta pela abolição
Douglass e os abolicionistas argumentavam que, como o objetivo da guerra era terminar com a escravidão, os afro-americanos deveriam poder lutar por sua liberdade. Publicou essa opinião em seus jornais e nos vários discursos que fazia.
A Proclamação da Emancipação, por parte do presidente Lincoln, que ocorreu em 1o de janeiro de 1863, declarava a liberdade de todos os escravos no território da Confederação.9 Douglass descreveu o estado de ânimo daqueles que aguardavam a proclamação: "Nós esperávamos e ouvíamos, como se um raio fosse cair do céu... nós olhávamos... à luz esmaecida das estrelas aguardávamos a alvorada de um novo dia...ansiávamos por uma resposta às angustiosas preces de muitos séculos."10
O norte já não era mais obrigado a devolver os escravos a seus senhores do sul e Douglass lutou pela igualdade de seu povo. Planejou com Lincoln retirar do sul os escravos libertos. Durante a guerra ele serviu como recruta no 54o Regimento de Massachusetts. Seu filho Frederick Douglass Jr. também serviu como recruta e seu outro filho, Lewis Douglass, lutou no 54o Regimento de Massachusetts por ocasião da batalha de Fort Wagner.
A escravidão foi declarada ilegal em todo o território dos Estados Unidos por meio da ratificação da 13a Emenda. A 14a Emenda proporcionava cidadania e igual proteção, garantidas pela lei. A 15a Emenda protegia todos os cidadãos da discriminação por motivos de raça, em se tratando de eleições.
Por ocasião da inauguração do Memorial da Emancipação, no Lincoln Park, em Washington, Douglass encontrava-se presente, enquanto um tributo a Lincoln era feito por um proeminente advogado. Algumas pessoas foram de opinião que aquilo não fazia justiça a Lincoln e pediram que Douglass falasse. Ele levantou-se com relutância e se manifestou. Sem haver preparado nada, prestou uma eloquente homenagem ao presidente assassinado e essa fala lhe angariou grande respeito.
Em seu discurso, Douglass falou francamente a respeito de Lincoln, procurando ser imparcial e equilibrado. Denominou Lincoln "o presidente dos brancos" e citou sua demora em participar da causa da emancipação. Notou que Lincoln, inicialmente, se opunha à expansão da escravidão, mas não apoiava sua eliminação. Douglass, porém, afirmou: "Poderá algum homem de cor ou qualquer homem branco, amigo da liberdade de todos os homens, jamais esquecer aquela noite que se seguiu ao primeiro dia de janeiro de 1863, quando o mundo todo viu Abraham Lincoln provar que valia tanto quanto sua palavra?"11
A multidão, entusiasmada com seu discurso, aplaudiu-o em pé. Mais tarde uma testemunha declarou: "Ouvi Clay discursar, bem como muitos homens fantásticos, porém jamais ouvi um discurso tão impressionante como aquele." Segundo uma história, divulgada durante muito tempo, a viúva do presidente assassinado, Mary Lincoln, presenteou Douglass com a bengala preferida de Lincoln, em reconhecimento. Esta bengala ainda se encontra na residência de Douglass, conhecida como Cedar Hill. Constitui um testemunho ao tributo prestado a Lincoln e aos efeitos positivos da vigorosa oratória de Douglass.
Após a Guerra Civil, Douglass foi indicado para ocupar vários cargos políticos importantes. Foi presidente do Freedman´s Saving Bank (Banco de Poupança dos Homens Libertos), representante das autoridades federais no Distrito de Columbia, ministro residente e cônsul geral da República do Haiti (1889-1891) e encarregado de negócios da República Dominicana. Decorridos dois anos, demitiu-se da embaixada por não concordar com a política do governo dos Estados Unidos. Em 1872, mudou-se para Washington, D.C., após sua casa na South Avenue, Rochester, Nova York, ser destruída por um incêndio.
Desconfiou-se que foi um incêndio premeditado. Nele perdeu-se uma coleção completa de seu jornal, The North Star.
Em 1868, Douglass apoiou a campanha presidencial de Ulysses S. Grant. O presidente Grant assinou a lei relativa à Ku Klux Klan e à 2a e 3a Emendas. Ele as aplicou com o máximo rigor, suspendeu o habeas-corpus na Carolina do Sul, enviou tropas para lá e para outros estados. Sob sua liderança foram feitas 5.000 prisões e a Ku Klux Klan sofreu um sério golpe. O rigor de Grant, em relação ao desbaratamento da Ku Klux Klan, o tornou pouco popular entre muitos brancos, mas Frederick Douglass o elogiou. Um sócio de Douglas, referindo-se ao presidente Grant, escreveu que os afro-americanos "guardarão para sempre uma grata lembrança de seu nome, fama e os grandes serviços que ele prestou".
Em 1872, Douglass tornou-se o primeiro afro-americano indicado para ser vice-presidente dos Estados Unidos, quando ele e Victoria Woodhull concorreram pela chapa do Partido da Igualdade de Direitos.
Douglass deu seguimento a seus compromissos como orador. Por ocasião de um circuito de palestras, falou em muitos colégios de todo o país durante a era da Reconstrução, incluindo o Bates College em Lewinston, Maine, em 1873. Continuou a enfatizar a importância do direito de voto e do exercício do sufrágio.
Insurgentes brancos haviam despontado rapidamente no sul, após a guerra, organizando-se inicialmente como grupos secretos, a exemplo da Ku Klux Klan. Ao longo dos anos, a insurgência armada assumiu diferentes formas, inclusive a de poderosos grupos paramilitares armados, tais como a White League (Liga Branca) e Red Shirts (Camisas Vermelhas), durante os anos 1870, no Sul Profundo.
Operavam como "o braço militar do Partido Democrático", destituindo detentores republicanos de cargos públicos e tumultuando as eleições.12 Seu poder continuou a crescer no sul. Decorridos mais de 10 anos do término da guerra, os democratas brancos recuperaram o poder político em cada estado da antiga Confederação e começaram a reafirmar a supremacia branca. Reforçaram essa ação por meio de uma combinação de violência, leis de final do século 19 que impunham a segregação e um esforço planejado para privar os afro-americanos de seus direitos civis. Entre 1890-1908, os democratas brancos promulgaram novas constituições e estatutos no sul que criavam determinados requisitos para o registro de eleitores e para as eleições, os quais inabilitaram efetivamente a maioria dos negros e dezenas de milhares de brancos pobres.13 Essa inabilitação e a segregação foram reforçados por mais de seis décadas, no século 20.
Vida familiar
Douglass e Anna tiveram cinco filhos: Charles Remond Douglass, Rosetta Douglass, Lewis Henry Douglass, Frederick Douglass Jr. e Annie Douglass, morta aos dez anos. Os dois mais velhos, Charles e Rossetta, ajudaram a produzir os jornais dele.
Douglass foi ordenado pastor da Igreja Episcopal Metodista Africana.
Em 1877, ele comprou sua derradeira casa em Washington D.C., numa colina acima do rio Anacostia. Deu-lhe o nome de Cedar Hill, ampliou a casa, de 14 para 21 quartos e, um ano mais tarde, expandiu a propriedade, que passou a ter 61.000 m2, comprando terrenos vizinhos. Hoje a casa é conhecida como Frederick Douglass National Historic Site.
Após a decepção com o fato de os brancos recuperarem o poder no sul, em seguida à Reconstrução, muitos afro-americanos, denominados Exodusters , mudaram para Kansas com o objetivo de formar cidades negras onde poderiam ser livres. Douglass manifestou-se contra esse movimento, conclamando os negros a repeli-lo. Foi condenado e vaiado por platéias negras.
Em 1877, Douglass foi nomeado representante da autoridade federal nos Estados Unidos. Em 1881, foi nomeado para o cargo de Registrador de Feitos para o Distrito de Columbia. Sua esposa Anna Murray Douglass morreu em 1882, deixando-o deprimido. Seu trabalho ao lado da ativista Ida B . Wells fez com que sua vida voltasse a ter um significado.
Em 1884, Douglas casou com Helen Pitts, feminista branca de Honeoye, Nova York. Ela era filha de Gideon Pitts Jr., abolicionista, colega e amigo de Douglass. Pitts havia se formado no College Mount Holyoke, então denominado Mount Holyoke Female Seminary. Trabalhou una publicação feminista radical intitulada Alpha, quando morava em Washington, D.C. Douglass e Helen enfrentaram tremendas controvérsias devido a seu casamento, pois ela era branca e quase vinte anos mais nova do que ele. Sua família parou de falar com ela, a família dele ficou magoada, pois seus filhos sentiam esse casamento como um repúdio à sua mãe. No entanto a feminista Elizabeth Cady Stanton congratulou o casal.14 Eles viajaram para a Inglaterra, França, Itália, Egito e Grécia, de 1886 a 1887.
Por ocasião da Convenção Republicana Nacional, em 1888, Douglass tornou-se o primeiro afro-americano a receber um voto para presidente dos Estados Unidos, numa lista de candidatos de um partido.15 16 17
Em 1892 o governo haitiano nomeou Douglass como seu comissário à Exposição Mundial de Chicago. Ele se pronunciou a favor da Irish Home Rule e dos esforços do líder Charles Stewart Parnell na Irlanda, país que voltou a visitar brevemente em 1886. Igualmente em 1892 construiu uma morada de aluguel para negros, na região de Fells Point, em Baltimore. Agora conhecida como Douglass Place, foi inscrita como bem tombado no Registro Nacional de Lugares Históricos, em 2003.18 19
Morte
No dia 20 de fevereiro de 1895 participou de um encontro do Conselho Nacional de Mulheres em Washington, DC. Durante o evento ele foi levado ao palco e a platéia o ovacionou em pé. Logo após regressar ao lar, sofreu um ataque cardíaco fulminante ou um derrame, na cidade que adotara, Washington, D.C. Está enterrado no Cemitério Mount Houpe em Rochester, Estado de Nova York.
Em 2002 o acadêmico Molefi Kete Asante incluiu Frederick Douglas em sua lista dos 100 Greatest African Americans 21.
Estabelecimento da data de nascimento
Em sucessivas autobiografias, Douglass forneceu estimativas mais precisas da data em que nasceu. A estimativa final se refere a 1817. Adotou o dia 14 de fevereiro como data de aniversário, pois sua mãe Harriet Bailey costumava chamá-lo de seu "pequeno valentine". Douglass nasceu no litoral leste de Maryland, onde os escravos eram punidos por aprender a ler e a escrever e, assim, não podiam manter diários ou registros. O historiador Dickson Preston examinou os registros do antigo senhor de Douglass, Aaron Anthony, e determinou que ele nasceu em fevereiro de 1818.22